28/08/23

Fome

 "fome"


ide anunciar

que deus se esqueceu de nós

que aqui ninguém passa de formiga

que se esburaca a terra com os dedos

à procura da ultima refeição.

que agrilhoados nos corpos

nos fustigam as almas

e os corações são os primeiros a falecer!

que as vozes se esgotam antes de sair qualquer som

e que semeamos a sedição no silencio

que o tumulto cresce no vazio dos nossos estômagos

que amanhã, durante o seu sono,

cortamos a garganta de quem nos dá de comer.

que ninguém durma hoje sobre esta terra maldita!!

E que a sede me assole

se a que tenho 

só nesses lábios

morre.




25/08/23

"um regresso (in)esperado"

 "um regresso (in)esperado"


faz tempo 

desde que os olhos repousam


no impossível abraço que cura 

maleita de filha e

cansaço de mãe 


pergunto

se ainda recordo

o que és

e que aspecto terá o que és 

quando ninguém te vê


não há sons 

no espaço 

que separa corpos,


certo que

todos

os pássaros 

esperaram anos

para chilrear 

a nossa canção.