21/12/09

lentidão.

o caracol devora o tecido vegetal e animal em decomposição.

15/12/09

"The Soul of Wine" - Baudelaire

One night, the soul of wine was singing in the flask:
"O man, dear disinherited! to you I sing
This song full of light and of brotherhood
From my prison of glass with its scarlet wax seals.

I know the cost in pain, in sweat,
And in burning sunlight on the blazing hillside,
Of creating my life, of giving me a soul:
I shall not be ungrateful or malevolent,

For I feel a boundless joy when I flow
Down the throat of a man worn out by his labor;
His warm breast is a pleasant tomb
Where I'm much happier than in my cold cellar.

Do you hear the choruses resounding on Sunday
And the hopes that warble in my fluttering breast?
With sleeves rolled up, elbows on the table,
You will glorify me and be content;

I shall light up the eyes of your enraptured wife,
And give back to your son his strength and his color;
I shall be for that frail athlete of life
The oil that hardens a wrestler's muscles.

Vegetal ambrosia, precious grain scattered
By the eternal Sower, I shall descend in you
So that from our love there will be born poetry,
Which will spring up toward God like a rare flower!"

Charles Baudelaire

o falhanço termina.

as calçadas atoladas
com o sangue do pai.

14/12/09

a senhora do cinto para pardais espreitava a minha janela
eu, daqui, pisquei-lhe o olho e deitei a língua de fora.
os coelhos refilões seguiam a rua a matracar:
" Nhéca nhéca nhéca, Brrrnhéca ! "

12/12/09

os cães uivavam
embriagados

09/12/09

a voz que chama está para lá do precipício
os olhos já não reconhecem luz

a mão esticava em redor
e tacteava a forma bem delineada
do vazio


08/12/09

não há atrito que vença a inercia com que mastigas o teu nada.

06/12/09

os cobardes repetem
as armas disparam
depois reconsidera-se, lamenta-se, olha-se para o quadro geral e vê-se a inutilidade do conflito
mas as razões estão sempre com eles
e recomeça-se...
os argumentos repetem-se
os insultos
e finalmente o conflito

queima, queima, queima...
até a felicidade do nada
a apatia
e a tão aguardada vida na negação
batem à porta que abrimos prazerozamente

02/12/09

esperança não é mais que a probabilidade de água
é o último e o primeiro amarelo que rasgam o horizonte impedindo a ditadura do negro e das luzes artificiais
nela se constroem casas e gerações
tombam com a sua queda e com ela se edificam novamente
procuramos, não esperança, mas respostas.
procuramos desesperadamente
dia após dia após dia
aquela razão. aquela réstia de luz.
recorremos aos mais apurados métodos científicos
em vão.
não acreditamos. não damos o salto em falso
porque secamos a nossa própria
esperança
seguimos de olhos vendados,
como se fosse possível eliminar a probabilidade de água!

01/12/09

o circo estava montado
os bilhetes esgotados
à hora marcada encontraram os palhaços sem maquilhagem e de malas feitas
cansados da farsa deixaram o publico só

(para rirem das próprias vidas consoante lhes aprouver)

os cães lambem os beiços com o mais desprezível osso resultante dos despojos de guerra, tal como os artistas sabem afirmar a pureza da sua, (repito:) da SUA maneira de ver e entender o todo.

mas também os cães vadios se abatem.