31/01/10

30/01/10

final

depois do tic-tatear acelerado
só se ouviam as nuvens passar

enquanto os cães cheiravam a areia sobre o cimento
havia um velho sentado a olhar o mar
e um peito que não podia já conter mais nada

os créditos rolavam de baixo para cima

24/01/10

ciência veterinária

os olhos fixavam-se naquele ponto.
o umbigo inchado do bovino não parava de crescer.
por sua vez os olhos viam apenas um pequeno ponto.
iam para fora, pela janela e regressavam ao ponto após ordem exterior.
os olhos não percebiam. para eles o umbigo era o mesmo, do mesmo tamanho de sempre.
o umbigo daqueles olhos.

os olhos não se apercebiam do quanto a boca que estava entre eles e o umbigo comia.
e que, durante as suas viagens à janela e regresso, aquela boca não parava de comer.

"come! come! come!
incha umbigo, prenhe de esterco!"

23/01/10

disco

good news / bad news
old news

19/01/10

semanário

abre.
banida mais uma vez, compunha o chapéu e acertava as horas no relógio de pulso.
fecha.
que falta fazia a loucura no dia em que as rãs deixaram de saltar.

04/01/10

o adeus lento

o escritor vivia longe dos que falavam a sua língua
apurava a melancolia nos entretantos
apagava a solidão nas mensagens que lhe chegavam
a doença chega
as vozes apagavam-se uma a uma
e com elas os corações
até que as vozes deixaram de se ouvir
e os uivos foram substituídos por grunhidos
ele fica a ver as velas apagar
encontrava algum consolo por saber
que no seu dia não haveria ninguém para deitar flores sobre a campa