03/10/22

"Votos para o eclipse" / “jardim” / “Definição” / “espaço”

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(o eclipse veio e a única coisa que se vi eclipsar foi a sensibilidade e compaixão)



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“análise”


procuro 

quem sonhe até à exaustão

e após repouso 

acorde

para sonhar outra vez


não há culpa em quem

não se alongue:

em teoria deslumbra

na prática extenua.


a fragilidade dos menos atraentes dá bons romances 

mas

não é tão bem tolerada.

sei de quem morreu de solidão;

escrevemos e

sentimos demais


contudo,

porque iria eu dizer

que me contento com a paixão

quando na verdade

quero enlouquecer até ao fim

dos nossos dias?




"escrevo bem" - dizias.
 (mas sinto demais)


“sangue navajo, coração apache”


acordei com dois pés esquerdos

os sapatos apertam

tornam difícil andar em linha recta 


fixo um objetivo

avanço com segurança

e quando parece próximo

os dois pés esquerdos

executam curva e contracurva

até que me encontre uma e outra vez

numa rua desconhecida


olho em redor

sento-me 

peço um café

gargarejo

e cuspo-o no chão

peço a conta

desando,

descalço-me,

dispo-me,

prometo 

rios de dinheiro

ao dono da lavandaria

em troco de uma toalha lavada

e pinturas de guerra




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(ironias da vida: numa troca frequente de mensagens podem ler-se coisas tão díspares como carência exacerbada ou prazer pela descoberta. tudo depende de quem lê, do momento, dos receios, do estímulo da novidade, do desgaste, da vontade, da leveza, de ...
Olhar para isso com algum desconforto mas conseguir sorrir faz-me sentir forte.

Regressei com um sorriso gigantesco e o peito a transbordar e no meio de todo este fim de semana é isso que assusta. 

Este fim de semana deixou-me exausto mas com a certeza que eu "fui eu". estive nos lugares, senti tudo do mais inquietante ao mais pacifico e fui eu. há felicidade nisso.  posso mesmo dizer que estar sentado naquela pedra contigo e toda aquela vista é dos momentos mais felizes que tive na vida. e isso já ninguém me tira! 😊 )


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"Votos para o eclipse"


haja espaço para perceber a distância entre paixão, amor e a sorte de ter ambos.

aviso à navegação: não estou "a ficar melhor". não estou "a ficar bem". não estou a coisa nenhuma. estou a desbloquear o que sou. e aí o problema esteve tanto em quem bloqueou como em quem deixou de ver o preso para se focar na prisão. ver alguém que fica melhor é insistir num erro, e o maior perigo para um preso é acreditar que não encaixa na vida lá fora; acreditar que ele é a prisão. é diminui-lo.

o conhecimento estará aí e não nasceu apenas de experiências recentes.
haja tempo para te lembrares ou reaprenderes que me conheces e não à minha sombra.

Como diz um querido amigo:
"Larga as tuas lágrimas!
Vê bem: eu não moro lá!"


“jardim”

espero …

o uivo que rasga 

com o dia a nascer

espero que o incêndio

não queime mais 

que o peito que deseja arder

espero uma luta justa

que em mim

não me volte a aprisionar

espero um casaco de vento que agasalhe no frio

sem no calor sufocar

espero que ao procurar

te encontres

perto de mim

espero o enfarte do agiota

no banco de jardim



“Definição” 

não esqueci. sei.

sorrio quando os olhos (te) encontram.

entre ser e estar espero ter  quem me distinga. espero ser.

Nunca te perdeste e aí te alongaste? Que fazes ao teu medo  enquanto esperas que os outros se libertem do deles?

sentir,  agir, pensar,  doença  e luta.

espero ter 

quem me distinga.

espero ser.

A chuva parece estática para quem não pára de correr Para asas pequenas que teimam não crescer inventam-se âncoras de medo.

O sonho chega  em recorrentes ondas  e impõe-se uma, outra e ainda outra vez. 

Há algo que define mais que desespero, depressão e ansiedade. 

Por mais recorrentes.

Por mais que "saturem".

Não há âncora que perdure:

Não sou o meu cansaço. Sou a persistência do sonho!

“espaço”

encaramos a luta nos olhos um do outro e aí nos perdemos

depois de uma década a aprender a viver na selva respira-se no intervalo fugimos para combater

encaramos a luta nos olhos um do outro e aí nos perdemos

um pelo outro