21/06/23

"2 beijos e uma cuspidela"

 "criatividade"


Guardo

debaixo da almofada

o mais belo 

coração

que o mundo já presenciou


Quando acordo

com esse coração 

sinto que acordo novo.

sou eu 

mas sou também

mais que eu.


as suas batidas

tornam-se ensurdecedoras

quando é necessário 

abafar

o peso de um ou outro momento

e rapidamente marcam o ritmo 

para que o cérebro 

dispare 

na memória

a melodia exata 

para que o sorriso rasgue


com ele adormeço também 

enquanto lhe conto coisas.


desde histórias mirabolantes

(aquela vez que surfamos o telhado do funicular,

o Sr da barbearia que tem 

seis dedos numa mão 

e sabe todas as capitais do mundo,

o Wolverine de Porto Alegre,

a Dona Rosa que se apaixonou pelas cartas escritas

pelo filho de 10 anos da vizinha,...) 

até a meras simplicidades do quotidiano

"hoje almocei bacalhau com natas,

choveu mas estava calor,

a Sra da loja da frente ao teatro tropeçou,

..."


quando ensonado,

não tendo a nossa imaginação

limite,

permite-me sempre

pedir

que me cale

com um beijo


guardo

debaixo da almofada

o coração

mais belo 

do mundo


(só não sei

se meu

ou teu)



"Num domingo qualquer, qualquer hora"


cansado.

ou mal.

(mas mal e cansado

talvez sejam igual)


Cansado de esperar 

não sei pelo quê

com vontade de falar 

não sei com quem 

Perdido

em

preocupações

com

nada


A pontapear flores 

numa frustração 

de adolescente 

que gasta páginas inteiras 

in

tei

ras

com impercetíveis frases.


Abatido sobre todo o peso

com que se encheu

o vazio

deixado 

pela ausência 

de quem 

ainda

não esteve.


“asterisco”


procuramos, não esperança, mas respostas.

existe no último e o primeiro amarelo 

(que rasgam horizonte 

impedindo ditadura 

das luzes artificiais)

um local

onde se constroem casas e gerações


tombam ao fim do dia

e com ele novamente se edificam


nas tuas mãos

uma fonte 

e um jardim


nas tuas mãos

sempre um jardim


esperança 

talvez não seja 

mais que 

a probabilidade de água


dia após dia após dia

procuramos

razão, réstia de luz.

recorrendo

em vão 

aos mais apurados métodos.


no entanto

não acreditamos. 

não damos o salto em falso

e assim

secamos a nossa própria esperança

seguindo de olhos vendados.


como se fosse possível eliminar 

a probabilidade de água!


contudo

seguimos 

também 

embriagados na nossa sede

com a mera perspetiva

que das mãos 

que sabem tocar

brotem

rosas