29/12/10

zeppelin



há quem diga que é uma bomba. um desastre à espera de acontecer. inquestionavelmente é um modo de ir de um sítio para o outro. (ou "era")

28/12/10

canil


não é preciso um acontecimento para disparar nada. agem como putos. apenas putos. putos a descobrir coisas pela primeira vez. uma e outra vez. uma porra de sítio. merda nas paredes. merda até sufocar. e aprendem a merda porque merda é o que há. merda é o que vai continuar a ser servido. a merda de cima não pode cair em descrédito e por isso manda-se mais merda para baixo. parar para perguntar "porquê" é afundar na merda. a peça não serve. não encaixa. vem com defeito. estraga a engrenagem. a merda da engrenagem. e a peça começa a pensar que também é merda. "a merda da peça". a merda da peça que não encaixa. a merda da peça que sabe que a merda da engrenagem decide o que é a merda. define-a. "isto é merda!". "isto não é merda!". e a merda da peça sabe que a realidade não é necessariamente assim. e a merda da peça sabe que a percepção é mais forte que a realidade. e a merda da percepção é como os olhos do cu: cada um caga merda diferente. e a percepção da realidade é mais fraca do que a realidade porque a merda da engrenagem escreveu o manual. a merda do manual. e na merda do manual vem assim. é lei. a merda da lei. está escrito. com mil e um artigos de merda. "à merda com as peças egoístas! viva a engrenagem". que se foda a puta da merda do manual. a peça vai ser peça por si. peça acabada. um parafuso que não precisa de assentar a cabeça na merda da prateleira para ser um parafuso útil. útil a quem? ao quê? é um parafuso "melhor" se estiver encaixadinho? "melhor"? o que é essa merda de melhor? melhor para quem? para o parafuso? ide à merda! à vossa merda!

(e no meio daquilo restos de alprazolam a salvar o dia.
obrigada.)


27/12/10

Tarkovski


"O génio, afinal, não se revela na perfeição absoluta de uma obra, mas sim na absoluta fidelidade a si próprio, no compromisso com sua própria paixão. O anseio apaixonado do artista de encontrar a verdade, de conhecer o mundo e a si próprio dentro desse mundo, confere um significado especial até mesmo aos trechos mais obscuros de suas obras, ou, como se costuma dizer, "menos bem-sucedidos".
Pode-se ir ainda mais longe, não conheço uma só obra-prima que não tenha suas fraquezas ou que esteja inteiramente isenta de imperfeições, pois as tendências pessoais que criam o génio e a integridade de propósitos que sustenta a sua obra constituem a fonte não apenas da grandeza de uma obra-prime mas também das suas falhas. Volto a dizê-lo - pode dar-se o nome de "falha" a um componente orgânico de uma visão do mundo integral? O génio não é livre. Como escreveu Thomas Mann: " Só a indiferença é livre. O que tem carácter distintivo nunca é livre; traz a marca do seu próprio selo; é condicionado e comprometido."


em "Esculpir o Tempo" de Tarkovski


25/12/10

.

finda a obra,
desce o pano.



desce o pano,
inicia / finda a vida?
actor. entidade. personagem.
estanque. mutável.
mentira.
e se mentirmos tempo suficiente...
quê?

21/12/10

Sobre o vazio instituido...

«Nem todos os cultos resultam de modas, nem todas as modas geram cultos, até porque a essência da sociedade contemporânea laica é o consumo e o espectáculo. Mas sendo as modas essencialmente efémeras, os seus simulacros de cultos - quando existem -, são superficiais e vão-se sucedendo a um ritmo alucinante sem deixar marcas visíveis ou profundas.»


Eduardo de Sousa (livreiro da Letra Livre) na revista "Coelacanto" (Dezembro de 2010)


prenome

a maré sobe
a água já cobre a boca
infelizmente a maré também desce.

eventualmente
também ...

espuma.
espuma.
espuma.

16/12/10

14/12/10

Caribou - 14-12-2010


uma sala cheia de gente.
e de repente viseu não me pareceu tão frio.
o mesmo vazio à minha volta. a mesma solidão em mim.
o melhor em pessoas que insistem em ser crianças (de 20, 30, 40, 50,... anos)
mas uma criança grande sem responsabilidades também é uma coisa feia.
...
venho a pé pela almirante reis
entre martim moniz e intendente (não, não fui assaltado) uma prostituta crava um cigarro que cedo gentilmente. peço desculpa por estar amarrotado. oferece companhia gratuita. recuso o mais educadamente que sei.
não me sinto daqui.
e no entanto sinto que devo ficar. pela teimosia do choque. uma pulga que morde o pelo do cão convencida que faz a diferença. a querer ensinar um cadáver que há mais que aquilo. (que o som dos vermes a devorar a carne.) mas ensinar o quê? a quêm? esta gente não tem medo do fim. esta gente já morreu. repete um dia e outro e outro para sobreviver. é tudo!
mais cedo falece també o que tenho e quero passar...
já não há!
já não se usa!
o menino vem da aldeia!
o menino está desactualizado!
...
mais á frente a cena repete.
ofereço o último cigarro.
"então e tu?"
"não se preocupe"
"queres vir para um quarto?"
novamente recuso tentando não ofender. aproveita-se rapidaemente da minha simpatia para me cravar um euro.
"para um café"
tiro tudo quanto tenho no bolso.
um e meio.
e despacho-a educadamente.
(sempre educadamente)
um senhor que dorme num canto interrompe e pede cigarro.
explico (sim... educadamente!) que dei o último. que nem trocos tenho já.
ele agradece na mesma e cala-se numa tosse forte.
que raio de cidade é esta? que é feito do amor? onde está a religião? na caminha? aconchegada no edredão? (que a noite está fria)
e o amor que prometeste aos teus filhos meu cabrão!?

10/12/10

era uma vez

uma hora
que demorava dias a passar

(e por aí fora...)

06/12/10

vs


imediatez e conforto