27/09/11

coisas

do objecto à ânsia,
da posse ao significado.
uma infinidade de horas.
uma infinidade de leituras.
e depois, de que servem as trancas se dormimos na rua?

13/09/11

também eu sei o teu nome ...

o xaile da Dona Leonor estava dobrado em cima da mesa. "eu cuidei dela nestes meses" - dizia a Dona Antónia - "o xaile devia ficar para mim!". "nem pensar! eu sempre fui a preferida dela. ela haveria de querer que eu cuidasse do xaile!" - retorquía a Dona Isabel. "ora, se eu é que lhe comprei a lã... e ademais..." - observou a Senhora Antonieta. eu perdi a vontade de me rir nos primeiros segundos. de qualquer modo, faltam 4 meses para o mundo acabar.

06/09/11

Daniil Harms

Anton Mikhailovich escarrou, fez «ah», voltou a escarrar, fez outra vez «ah» e foi-se embora. Tanto pior para ele! Vou antes falar de Ilia Pavlovich.
Ilia Pavlovich nasceu em 1893, em Constantinopla. Pequeno ainda, levaram-no para S. Petersburgo, onde concluiu estudos na escola alemã da rua Kirochnaia. Depois trabalhou numa loja, depois fez outra coisa qualquer, e quando começou a revolução emigrou para o estrangeiro. Olhem, tanto pior para ele! Vou antes falar de Anna Ignatieva.
Mas falar de Anna Ignatieva não é assim tão simples. Começa por que não sei nada dela, e depois acabo de cair da cadeira e esqueci tudo quanto tinha para contar. Vou antes falar de mim.
Sou alto, não sou nada parvo, visto com elegância e gosto, não bebo, não vou às corridas mas tenho um fraco por mulheres. E as mulheres não fogem de mim. Gostam mesmo que dê passeios
com elas. Serafina Izmailovna convidou-me mais do que uma vez para ir a casa dela, e Zinaida Iakolevna também costumava afirmar que tinha muito prazer em ver-me. Com Marina Petrovna é que se passou uma coisa divertida, que desejo contar. Uma coisa banalíssima mas ainda assim divertida. Marina Petrovna ficou completamente careca por minha causa, careca como um ovo. O facto deu-se desta forma: um dia fui a casa de Marina Petrovna, e ela «zás!», completamente careca. Só isto.