04/02/25

"conclusão inamovível"

"conclusão inamovível"


Quando quis tocar,
as mãos tremeram
desejando 
mais coragem:
minha, tua, nossa.

Quis saltar
mas não sozinho.

Quis gritar o teu nome
mas a garganta traiu,
perdi o grito na língua,
engoli o verbo, 
afogado em silêncio.

(Aprendi.
Não sou.
Serei?)

Assim,
hoje
regresso a ontem:
observo
perdido em questões.

De consolo
saber que na tempestade
fiz a mesa 
para dois.

(Tu
és.)

Se quisesses
saberias tu 
chamar o meu nome?

em ti 
com vontade de ilha
senti casa.

(Vontade 
não é força.)

se honesta
serás forte.

serei fraco
se todo o meu afecto
não falar mais alto
que o desconforto.

tu queres não te magoar mais 
e afastas
eu quero não me magoar mais 
e fico:

desconforto 
porque 
desbravamos

(Será silêncio
força?)

na tristeza do meu silêncio
esteve uma mão 
dada 
com discreta alegria 
e a esperança
de quem se convenceu 
a aprender algo 
novo

(mas também para mim 
passinhos são difíceis 
quando para fora 
da zona de conforto

"desmistificar à bruta"?)

de bom grado
transmutaria 
horas em séculos

arrisquei
porque nunca fui bom
a encontrar 
meios termos.

todo.
todo.
todo.

meu
   bem.

tenho de reaprender
a ler:
"con-clu-são".
o som dessa palavra 
tem de ser mais alto
que a esperança
de que também tu 
estendas 
os braços.

(talvez 
o teu vazio
não tenha 
a minha forma.)

mas uma casa
é coisa rara.

resta uma saudade
que nem tu conheces:
"inamovível".



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