... não resolve
mas ajuda.
"Let everything that's been planned come true. Let them believe. And let them have a laugh at their passions. Because what they call passion actually is not some emotional energy, but just the friction between their souls and the outside world. And most important, let them believe in themselves. Let them be helpless like children, because weakness is a great thing, and strength is nothing. (...) " de "Stalker" (Andrei Tarkovsky)
Talvez esta predisposição para enfrentar desconforto não seja apenas coragem.
Talvez esta coragem não seja sequer coragem.
Talvez esta vontade suicida de ter coração aberto venha de um modo de amar sem medo mas também sem ilusões.
Um mais que gostar da ideia da pessoa, de gostar de facto da pessoa.
Da que conheço e da que permanece encoberta.
Gostar tanto do que sei de como o que não sei.
Dizer "por mim fico" é muito mais que teimosia.
Talvez seja mesmo muito mais que não ter medo de reconhecer o amor quando está à nossa frente.
Talvez forçar-me a admitir que foi inesperado, não correspondido mas também enorme, avassalador, assoberbante,... seja a maneira de defender o quanto tudo foi bonito.
Não há nisto nostalgia.
Defender essa honestidade contra a vontade de me proteger é-me importante.
Talvez coragem não seja de todo a palavra para isso.
Talvez seja uma predisposição para fazer caminho sem medo.
Destruir cercas. Construir pontes.
O que nos lixa não é encontrar uma pessoa que nos deslumbra e tira de nós.
Mesmo que a companhia seja sempre prazerosa, que seja evidente que tudo está certo quando essa presença se faz sentir, que parece que o universo conspirou com cada passo que aquela pessoa deu e continua a dar na vida só para nos fazer sentir admiração e cumplicidade.
Não obstante o quanto tudo isto também tem de assustador.
Quando a autoestima incha consigo me convencer de que também serei bom para essa pessoa por me sentir preparado ou, mais que isso, ansioso pelo momento em que ela sinta que em vez de fugir do desconforto o quer enfrentar. Certo de que do outro lado há algo melhor e que é por aí o caminho para fora de um vicioso circulo. Mas.. não obstante o quanto também isto também tem de assustador..
O que nos lixa é quando não temos razões para rir mas somos recorrentemente assolados de esperança e boa disposição.
Quando coisa é séria e impele a casmurrice mas algo cá dentro parece gritar "foi bom, foi bonito".
Como se o que se viveu fosse, mais que um aperto no peito, uma amostra de resposta para todos os desafios, problemas, ...
(..a diferença que uma abécula faz mesmo quando se esgadanha para voltar a desaparecer.)
É fodido! 😊
Suponho que perante desconforto essa predisposição faça a diferença.
Este ânimo do "eu conseguia fazer isto" perante adversidades ou impossibilidades é algo de novo.
O "não deixar de ver problemas" mas com aquela presença (que nem precisa estar nas imediações mas que sabemos algures) ver mais soluções que problemas.
Não estou habituado. Será isto algum tipo de maturidade? É certamente mais que mera resiliência.
Não sei ainda se devia gostar desta força. Afinal, de que serve este sentimento se unilateral?
Mas tenho de admitir que gosto.
O pior é mesmo isso: não saber se este tipo de disponibilidade nasce de loucura ou de um amor genuíno e gratuito.
Haverá diferença?
"conclusão inamovível"
(Estava no meio da estrada atordoado. Espetei água na goela, vi se as asas estavam bem e deixei mais resguardado. )
- Não posso salvar todos.
- Pois não.
- Pois não?
- Especialmente quem não quer nem precisa ser salvo.
- É?
- Dizem que sim.
- Quem diz?
"o homem que corre"