08/05/24

4 rabiscos e 2 musicas

 


"analepse"

(aos que neste mundo
assassinam pardais 
com piscadelas de olho
e guardam
fisgas
para fachos)

se estável 
enfado
se oscilante
apaixono
se inquieto
reclamo
se encontro
questiono

no quanto não sei
defino
no quanto procuro
perco

se sincero fosse
talvez
admitisse
a paz 
entre braços 
e raros,
pontuais
e muy seletivos
cruzamentos de olhar.
como hoje 
não o vou ser
minto
com verdades 
nas entrelinhas.

se estável:
enfado
se oscilante:
apaixono
se inquieto:
reclamo
se encontro:
questiono

abandono

me
aí 


---"""---

"Condolências / Declarações"


Sinto muito.

Sinto tanto.


---"""---



“poeira (2ª versão)”

quero um sonho em que não vacilo
e ao acordar
não vacilar

um sonho em que sou sempre forte
para ao acordar
aceitar
a minha fragilidade

um sonho em que sussurro
adeus
sem esperar
um até já

as pessoas
da terra
onde todas as bebidas
são gratuitas
e
onde trazem canapés
em travessas douradas,
todas essas pessoas
abastadas,
bonitas,
novas
e as novamente bonitas;
deviam deitar-se,
adormecer
e acordar
para um novo sonho.

em que que cooperação
supere a competitividade

em que riqueza mórbida
é descrita nos mais elementares
manuais de saúde
como doença mental
e a terapia para essa maleita
obrigatória

quero um sonho
em que amo
apenas
o suficiente

um sonho onde,
mesmo com a história
de todas as mazelas
escritas em memória e corpo,
ninguém tem
medo de dar voz
a afectos

um sonho
onde
tudo é gratuito
começando
pelo teu
sorriso.

quero um sonho
ou dois
ou um sonho a dois,
uma esmola
para o santinho,
uma fuga
para definitivamente
parar de fugir.

eu sei,
quero sempre tanto!
mas por vezes

uma peça de fruta

basta!

---"""---

"olha que bela lua"


ele 
toma café.
fuma para parecer fixe.
faz amigos da Lituânia
e esquece-se que é o DJ.

ele faz videos e fala na terceira pessoa
e tem cds com cavalos a mijar.
sente a memória regressar:
beija um casaco 
como quem não quer incomodar;
como quem pede desculpa
por gostar.

desliga o som e mesa,
sopra,
apaga as velas,
passa o pano,
limpa o álcool do piano.

faz mala, veste casaco, 
entra no carro, dirige,
pensa num sofá
e em filmes dos anos 80.

renega o lucro como dogma
embala-se teimoso
com o mesmo refrão
como quem não se verga 
a tempo, rotina ou evidências
cósmico afecto
como quem reza.

tudo é nosso.
nada é nosso.

excepto talvez 
o que sente.

irritantemente?
persistentemente?

tem problemas de ansiedade,
é overthinker 
(assim, chique e em inglês!)
tem medicação para ambos  
(mas não para o inglês)
acha que quem nunca enlouqueceu 
deve ter uma vida 
enfadonha 
p'a chuchu.

não és tu.
mas há erros 
com perfume
que embala.
e uma noite bem dormida
não é nada,
mesmo nada

de descurar. 


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