uma sala cheia de gente.
e de repente viseu não me pareceu tão frio.
o mesmo vazio à minha volta. a mesma solidão em mim.
o melhor em pessoas que insistem em ser crianças (de 20, 30, 40, 50,... anos)
mas uma criança grande sem responsabilidades também é uma coisa feia.
...
venho a pé pela almirante reis
entre martim moniz e intendente (não, não fui assaltado) uma prostituta crava um cigarro que cedo gentilmente. peço desculpa por estar amarrotado. oferece companhia gratuita. recuso o mais educadamente que sei.
não me sinto daqui.
e no entanto sinto que devo ficar. pela teimosia do choque. uma pulga que morde o pelo do cão convencida que faz a diferença. a querer ensinar um cadáver que há mais que aquilo. (que o som dos vermes a devorar a carne.) mas ensinar o quê? a quêm? esta gente não tem medo do fim. esta gente já morreu. repete um dia e outro e outro para sobreviver. é tudo!
mais cedo falece també o que tenho e quero passar...
já não há!
já não se usa!
o menino vem da aldeia!
o menino está desactualizado!
...
mais á frente a cena repete.
ofereço o último cigarro.
"então e tu?"
"não se preocupe"
"queres vir para um quarto?"
novamente recuso tentando não ofender. aproveita-se rapidaemente da minha simpatia para me cravar um euro.
"para um café"
tiro tudo quanto tenho no bolso.
um e meio.
e despacho-a educadamente.
(sempre educadamente)
um senhor que dorme num canto interrompe e pede cigarro.
explico (sim... educadamente!) que dei o último. que nem trocos tenho já.
ele agradece na mesma e cala-se numa tosse forte.
que raio de cidade é esta? que é feito do amor? onde está a religião? na caminha? aconchegada no edredão? (que a noite está fria)
e o amor que prometeste aos teus filhos meu cabrão!?
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