Imaginas gostar tanto de um livro que não queres que ele acabe? Que ele seja local de conforto? Tem-me acontecido muito com os que tenho colocado aqui. E não é mero síndrome de fuga: também tenho saído com amigos e tentado manter as velhas amizades. Morro de saudades tuas mas não fujo para dentro dos livros. Têm sido deliciosos! Voltarei a uns tantos de certeza!!
Desta vez, mais um belo livro do Manu Larcenet, com uma ilustração completamente diferente do último que li dele ("O Relatório de Brodeck"). Edição portuguesa em 2 volumes. Tão real, humano e cheio de coisas que me são tão familiares.
Ler que alguém querer estar mais tempo com o outro quando não passam a semana juntos é normal e não carência. Pensar que sufocares com apenas esse tipo de conversa é estranho ou sintomático de outras coisas (nem que seja apenas de um passado que não libertas) e não culpa minha (mesmo que nesse passado tenha tido essa culpa).
Quando tudo acaba de repente, com acusações e sem espaço para novas perguntas da minha parte esta reflexão é um exercício contínuo. Não posso viver em constante conflito com o que sinto. Afinal, haverá mais falta de amor que estar bem num silêncio prolongado? Porque procuro eu explicações para o que nem tu te preocupaste em dizer?
Ainda nestes dias em conversas com os compadres ao ouvi-los dizer que querem um tempinho sem a Gabi só para eles quase que me desfiz em lágrimas. Não de inveja ou de tristeza minha. Não de todo! Apenas fiquei enternecido e feliz por eles. Foi tão bom ouvir. Senti-me um pouco normal e validado.
"- uma crise de angustia é muito impressionante apesar de variar muito de pessoa para pessoa...
aprender a viver com isso significa ter um medo irracional de, a qualquer momento tudo se desmoronar."
"- porque quero ver-te mais! E quero que tenhamos mais tempo juntos, e assim... tu não queres?
- Não. (...) Estamos bem assim! Porque é que queres mudar tudo?
- Para mudar, precisamente! Para viver mais coisas contigo.. Estou farta do provisório.""- É gira, ela..
- Pois é..
- Não vive contigo?
- Não, não... achamos que é muito cedo, não nos apetece...
- Claro, claro... Merecias umas palmadas, às vezes..."
"- Tenho medo filho... nunca tive tanto medo... nem quando nascente.
- Também eu pai."
"- ESTOU FARTA! Pára de me tomar por parva! Eu já vi que tens medo, mas isso não desculpa tudo...quero ouvir-te, quero que conversemos, mas não quero que andes a fingir que está tudo muito bem entre nós!"
"- Vou retomar a psicanálise... há muitas coisas a falhar. (...) Pára de sorrir assim. Enervas-me..."
"O desespero puro coloca questões tão essenciais que não pode acomodar-se a nenhuma ideologia...
A fraude ideológica consiste em convencer que existe uma verdade. O real deixa então de importar, a não ser na medida em que pode moldar-se para se adaptar a ela. (...)
Deslastrada de toda a lógica, a poesia é a única forma livre de reparar no que é importante."
"Já lhe disse no outro dia... a fuga faz parte do combate."
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"Vildemoínhos" a 24-25/06/2022
E se eu disser que não fui para me despedir?
E se eu disser que não fui procurar nada nem ninguém?
(Os amigos foram para outras paragens.)
Pensei em não ir. Fiz paz comigo. Encontrei-me por entre ansiedades e receios. Encarei-me e dei-me força para estar bem sozinho. Fui.
Não procurei nada e encontrei tanto.
que seria de mim sem poesia?
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