21/12/09
20/12/09
15/12/09
"The Soul of Wine" - Baudelaire
One night, the soul of wine was singing in the flask:
"O man, dear disinherited! to you I sing
This song full of light and of brotherhood
From my prison of glass with its scarlet wax seals.
I know the cost in pain, in sweat,
And in burning sunlight on the blazing hillside,
Of creating my life, of giving me a soul:
I shall not be ungrateful or malevolent,
For I feel a boundless joy when I flow
Down the throat of a man worn out by his labor;
His warm breast is a pleasant tomb
Where I'm much happier than in my cold cellar.
Do you hear the choruses resounding on Sunday
And the hopes that warble in my fluttering breast?
With sleeves rolled up, elbows on the table,
You will glorify me and be content;
I shall light up the eyes of your enraptured wife,
And give back to your son his strength and his color;
I shall be for that frail athlete of life
The oil that hardens a wrestler's muscles.
By the eternal Sower, I shall descend in you
So that from our love there will be born poetry,
Which will spring up toward God like a rare flower!"
Charles Baudelaire
14/12/09
12/12/09
09/12/09
06/12/09
as armas disparam
depois reconsidera-se, lamenta-se, olha-se para o quadro geral e vê-se a inutilidade do conflito
mas as razões estão sempre com eles
e recomeça-se...
os argumentos repetem-se
os insultos
e finalmente o conflito
queima, queima, queima...
até a felicidade do nada
a apatia
e a tão aguardada vida na negação
batem à porta que abrimos prazerozamente
02/12/09
01/12/09
24/11/09
19/11/09
"os que abraçam e os que dormem"
e definham com receio dos que dormem
os que abraçam
acordam os que dormem
que podem não querer ser acordados
os que dormem
por vezes assustam tanto os que abraçam
que estes adormecem
os que dormem
por vezes não sabem que dormem
os que abraçam
por vezes não conseguem abraçar
há quem durma ao abraçar
e o corpo do abraçado responde habitualmente com uma náusea
há quem abrace meio mundo a dormir
sem que nunca ninguém saiba
18/11/09
"a ampulheta e o sonho"
15/11/09
divaga
deambula
vagueia
o galo não canta
os sinos não tocam
as sirenes iluminam em surdina
no parque das crianças só a ferrugem se faz ouvir
baniu-se o riso e a cor
o dicionário está mais leve que nunca
(em todo o seu insuportável peso)
a língua da nação-de-um
homem-ilha
inadequado
no final do dia regressa,
deixa-se morrer.
14/11/09
e depois...
e depois?
tu não vens. eu não saio.
repete-se.
dois. dois. dois.
não interessa mais se o copo está meio vazio ou meio cheio.
partiu!
partiu e é tudo.
e no entanto teimam em colocá-lo de pé e enchê-lo.
o copo não joga mais.
ainda que quebrado opta pela transparência.
os estilhaços não atingem ninguém.
seguem separados o seu caminho.
já não há um todo. já não há livro.
as folhas deambulam pela calçada.
desbotadas.
chove. e depois?
todos os dias findam.
é a lei.
no final do dia regressa,
deixa-se morrer.
13/11/09
04/11/09
03/11/09
24/10/09
23/10/09
22/10/09
19/10/09
que deixamos
vazio
por carência
de afecto
apodrece.
e em breve
o cheiro nauseabundo
chega às narinas
famintas
do
ódio.
o mau apresenta-se assim, bastantes vezes após a desilusão com o bom.
e o círculo não se quebra senão com a simultânea comunhão de vontades.
"para grandes males, grandes remédios"...
18/10/09
15/10/09
"quem me dera..."
que as noites não fossem tão inconstantes
que o tom waits nunca morresse
quem me dera
14/10/09
13/09/09
For Jane: With All the Love I Had, Which Was Not Enough
I pick up the sparkling beads
in black,
this thing that moved once
around flesh,
and I call God a liar,
I say anything that moved
like that
or knew
my name
could never die
in the common verity of dying,
and I pick
up her lovely
dress,
all her loveliness gone,
and I speak to all the gods,
Jewish gods, Christ-gods,
chips of blinking things,
idols, pills, bread,
fathoms, risks,
knowledgeable surrender,
rats in the gravy of two gone quite mad
without a chance,
hummingbird knowledge, hummingbird chance,
I lean upon this,
I lean on all of this
and I know
her dress upon my arm
but
they will not
give her back to me.
10/09/09
08/08/09
Às vezes tenho medo, muito medo.
Às vezes sofro.
Às vezes, penso nas pessoas que amo e penso na possibilidade de as perder.
Às vezes vejo alguém doente e fico incomodado.
Pode não ser um amigo ou um familiar.
Posso estar a vê-lo pela primeira vez.
Mas fico incomodado.
Aquela doença pertence-me.
Todas as doenças pertencem a toda a gente.
Todos os sofrimentos pertencem a toda a gente.
Todas as mortes pertencem um pouco a toda a gente.
Às vezes sinto isso muito,
outras vezes sinto menos.
Quando sinto menos posso preocupar-me com o mundo, brincar com a poesia, com a filosofia e com as palavras.
Mas quando sinto, deixo de conseguir pensar.
Quando sofro ou sinto o que alguém sofre, deixo mesmo de querer ser inteligente.
Deixo de querer parecer inteligente.
Se estivermos cheios a sentir, não temos espaço para pensar.
Não fazem sentido as lógicas, as filosofias, as discussões.
Todo o nosso corpo sente.
E o que resta? Nada.
Só existe aquela morte, aquela doença, aquela velhice.
Só aquele pai que amo e está a envelhecer. Só aquela mãe que amo e está a envelhecer.
Só aquele amigo que morreu num estúpido acidente.
Só aquele amigo que se tornou amargo porque a mulher o deixou.
Só o amor e a falta de amor.
As mulheres que nos enganam e as mulheres que são enganadas, as mulheres e os homens que enganam.
Os amigos que deixam de o ser, alguns inimigos que morrem, e temos pena.
Que importa o resto?
Onde está o livro importante?
O filme que resolve?
Podemos chorar à frente de um quadro, mas não resolve nada.
Podemos pintar um quadro, escrever um poema, mostrar às mulheres bonitas como somos bonitos, exibir o nosso corpo, mas que adianta?
Estamos sozinhos.
Se não estamos, vamos estar.
Os amigos vão-nos deixando, vão-nos deixar.
Vão morrer ou nós vamos morrer.
Ou então deixam de nos telefonar, ou então deixamos de lhes querer telefonar.
Estamos sozinhos. As pessoas que amo vão morrer.
Os livros não resolvem nada. A poesia é bonita e por vezes descansa, acalma, mas não resolve nada, não resolve nada.
Somos artistas ou não somos, e qualquer coisa que seja não adianta nada e nada impede.
Escrevemos poemas, mas não ajudam ninguém.
Escrevemos peças de teatro, sorrimos, tentamos pensar, tentamos ter ideias, tentamos distrair as pessoas, tentamos fazer pensar as pessoas, tentamos fazer chorar as pessoas, e isso é bom, e até pode ser bonito, mas não adianta nada, não resolve nada,
não adianta nada.