"as crianças não fazem barulho"
(Palestina 2025)
uma mão que se estende
Ouçam o que vos digo!
o ecrã brilha
com um tipo de luz
que não aquece,
com um tipo de luz
que não aquece,
mas queima devagar.
fazemos scroll
enquanto um corpo pequeno
é retirado dos escombros
é retirado dos escombros
como se fosse
um saco de arroz estragado.
vendem medo
em brilhantes embalagens
em brilhantes embalagens
com música épica de fundo.
milhares de partilhas.
milhões de olhos.
nenhuma lágrima.
nenhuma lágrima.
há dinheiro a ser contado
enquanto os ossos partem,
há contratos assinados
por mãos
que nunca
há contratos assinados
por mãos
que nunca
empunharam uma pá
para enterrar ninguém,
mas que desenham mapas
com sangue.
mas que desenham mapas
com sangue.
as pessoas dizem
"é muito complicado"
e depois voltam à pizza,
à série,
ao sofá.
sem ninguém para varrer,
os corpos acumulam-se
como folhas de outono.
"é muito complicado"
e depois voltam à pizza,
à série,
ao sofá.
sem ninguém para varrer,
os corpos acumulam-se
como folhas de outono.
há, no entanto, coisas
que não conseguiram matar:
o olhar
pequeno, sujo, faminto,
que ainda acredita.
pequeno, sujo, faminto,
que ainda acredita.
uma mão que se estende
quando tudo ensina
a fechar o punho.
mesmo entre ruínas,
a esperança é teimosa.
às vezes disfarçada de loucura,
ou de poesia mal escrita.
às vezes disfarçada de loucura,
ou de poesia mal escrita.
está viva.
e um dia vai gritar
e um dia vai gritar
mais alto que todas as bombas!
Ouçam o que vos digo!
Falo do que sei.
A esperança é teimosa!
