"raro"
raramente
encontro
o que eu quero
o que eu quero
é a verdade.
o que eu quero
é escrever
sem pensar quem vai ler.
o que eu quero
é quem saiba ler
e sentir.
o que eu quero
é uma pele
que me procure
e uma alma
que não se assuste.
o que eu quero
é não ter de sorrir
quando sinto os lábios presos.
o que eu quero
o que eu quero
é sair da cama
sem ter de negociar.
o que eu quero
o que eu quero
é que a cidade
pare por uma tarde.
quero
quero
uma mesa
sem falsas promessas
que guarde em si
todas as possibilidades.
o que eu quero
é continuar.
o que eu quero
o que eu quero
é falhar
e continuar
o que eu quero
é continuar sempre
a encontrar beleza
nas coisas quebradas.
é não ter de esconder nada
dentro de palavras.
o que eu quero
o que eu quero
é um pouco de céu
em cada beijo.
o que eu quero
o que eu quero
é que a luz
não se esqueça de mim
tal como eu
também na escuridão
por ela
insisto.
o que eu quero
é quem,
com os pés
bem assentes na terra
teime em voar.
"Verão"
as noites
não expressam,
por si mesmas,
sentido algum
apenas calor.
acumulado nas paredes.
como quem procura sombra.
sonha-se
como quem sacia sede.
"urgência"
porque o dia finda
porque o coração vai
porque o tempo ensina
porque a noite cai
porque,
contas feitas,
talvez
a única coisa
que tenhamos verdadeiramente
seja uns aos outros.
"??"
às vezes, a cidade faz-se ouvir
só para lembrar que ainda há tempo
quando isso acontece,
da confusão faz encanto.
às vezes o olhar
alonga-se
sem nome, nem plano
apenas possibilidade
como quem esquece a pressa
não trocamos apenas nomes,
mas trocamos o rumo do dia.
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"nem"
nem toda a fome
é
vontade de comer
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"carta"
como ferrugem
no portão
um dia
rangíamos juntos
outro dia
não