"criatividade"
Guardo
debaixo da almofada
o mais belo
coração
que o mundo já presenciou
Quando acordo
com esse coração
sinto que acordo novo.
sou eu
mas sou também
mais que eu.
as suas batidas
tornam-se ensurdecedoras
quando é necessário
abafar
o peso de um ou outro momento
e rapidamente marcam o ritmo
para que o cérebro
dispare
na memória
a melodia exata
para que o sorriso rasgue
com ele adormeço também
enquanto lhe conto coisas.
desde histórias mirabolantes
(aquela vez que surfamos o telhado do funicular,
o Sr da barbearia que tem
seis dedos numa mão
e sabe todas as capitais do mundo,
o Wolverine de Porto Alegre,
a Dona Rosa que se apaixonou pelas cartas escritas
pelo filho de 10 anos da vizinha,...)
até a meras simplicidades do quotidiano
"hoje almocei bacalhau com natas,
choveu mas estava calor,
a Sra da loja da frente ao teatro tropeçou,
..."
quando ensonado,
não tendo a nossa imaginação
limite,
permite-me sempre
pedir
que me cale
com um beijo
guardo
debaixo da almofada
o coração
mais belo
do mundo
(só não sei
se meu
ou teu)
"Num domingo qualquer, qualquer hora"
cansado.
ou mal.
(mas mal e cansado
talvez sejam igual)
Cansado de esperar
não sei pelo quê
com vontade de falar
não sei com quem
Perdido
em
preocupações
com
nada
A pontapear flores
numa frustração
de adolescente
que gasta páginas inteiras
in
tei
ras
com impercetíveis frases.
Abatido sobre todo o peso
com que se encheu
o vazio
deixado
pela ausência
de quem
ainda
não esteve.
“asterisco”
procuramos, não esperança, mas respostas.
existe no último e o primeiro amarelo
(que rasgam horizonte
impedindo ditadura
das luzes artificiais)
um local
onde se constroem casas e gerações
tombam ao fim do dia
e com ele novamente se edificam
nas tuas mãos
uma fonte
e um jardim
nas tuas mãos
sempre um jardim
esperança
talvez não seja
mais que
a probabilidade de água
dia após dia após dia
procuramos
razão, réstia de luz.
recorrendo
em vão
aos mais apurados métodos.
no entanto
não acreditamos.
não damos o salto em falso
e assim
secamos a nossa própria esperança
seguindo de olhos vendados.
como se fosse possível eliminar
a probabilidade de água!
contudo
seguimos
também
embriagados na nossa sede
com a mera perspetiva
que das mãos
que sabem tocar
brotem
rosas