21/12/11
18/12/11
15/12/11
12/12/11
06/12/11
05/12/11
04/12/11
22/11/11
era uma vez...
After reaching an impasse with Universal regarding the length and cut of his latest film BRAZIL, Gilliam took out the following full page ad in Variety magazine…
18/11/11
17/11/11
16/11/11
13/11/11
11/11/11
08/11/11
02/11/11
Alejandra Pizarnik
Não,
as palavras
não fazem amor
fazem ausência
Se digo água,
beberei ?
Se digo pão,
comerei ?
01/11/11
27/10/11
25/10/11
24/10/11
domingo
há uma árvore de grande dimensões a bloquear a estrada. chove. as luzes azuis da policia iluminam tudo intermitentemente. atiro as cascas de laranja para o jardim. Nastenka sonhava porque tinha a saia cosida à da avó. Eu sonho porque sim.
19/10/11
11/10/11
05/10/11
04/10/11
27/09/11
coisas
do objecto à ânsia,
da posse ao significado.
uma infinidade de horas.
uma infinidade de leituras.
e depois, de que servem as trancas se dormimos na rua?
26/09/11
14/09/11
13/09/11
também eu sei o teu nome ...
o xaile da Dona Leonor estava dobrado em cima da mesa. "eu cuidei dela nestes meses" - dizia a Dona Antónia - "o xaile devia ficar para mim!". "nem pensar! eu sempre fui a preferida dela. ela haveria de querer que eu cuidasse do xaile!" - retorquía a Dona Isabel. "ora, se eu é que lhe comprei a lã... e ademais..." - observou a Senhora Antonieta. eu perdi a vontade de me rir nos primeiros segundos. de qualquer modo, faltam 4 meses para o mundo acabar.
12/09/11
06/09/11
Daniil Harms
Anton Mikhailovich escarrou, fez «ah», voltou a escarrar, fez outra vez «ah» e foi-se embora. Tanto pior para ele! Vou antes falar de Ilia Pavlovich.
Ilia Pavlovich nasceu em 1893, em Constantinopla. Pequeno ainda, levaram-no para S. Petersburgo, onde concluiu estudos na escola alemã da rua Kirochnaia. Depois trabalhou numa loja, depois fez outra coisa qualquer, e quando começou a revolução emigrou para o estrangeiro. Olhem, tanto pior para ele! Vou antes falar de Anna Ignatieva.
Mas falar de Anna Ignatieva não é assim tão simples. Começa por que não sei nada dela, e depois acabo de cair da cadeira e esqueci tudo quanto tinha para contar. Vou antes falar de mim.
Sou alto, não sou nada parvo, visto com elegância e gosto, não bebo, não vou às corridas mas tenho um fraco por mulheres. E as mulheres não fogem de mim. Gostam mesmo que dê passeios
com elas. Serafina Izmailovna convidou-me mais do que uma vez para ir a casa dela, e Zinaida Iakolevna também costumava afirmar que tinha muito prazer em ver-me. Com Marina Petrovna é que se passou uma coisa divertida, que desejo contar. Uma coisa banalíssima mas ainda assim divertida. Marina Petrovna ficou completamente careca por minha causa, careca como um ovo. O facto deu-se desta forma: um dia fui a casa de Marina Petrovna, e ela «zás!», completamente careca. Só isto.
Ilia Pavlovich nasceu em 1893, em Constantinopla. Pequeno ainda, levaram-no para S. Petersburgo, onde concluiu estudos na escola alemã da rua Kirochnaia. Depois trabalhou numa loja, depois fez outra coisa qualquer, e quando começou a revolução emigrou para o estrangeiro. Olhem, tanto pior para ele! Vou antes falar de Anna Ignatieva.
Mas falar de Anna Ignatieva não é assim tão simples. Começa por que não sei nada dela, e depois acabo de cair da cadeira e esqueci tudo quanto tinha para contar. Vou antes falar de mim.
Sou alto, não sou nada parvo, visto com elegância e gosto, não bebo, não vou às corridas mas tenho um fraco por mulheres. E as mulheres não fogem de mim. Gostam mesmo que dê passeios
com elas. Serafina Izmailovna convidou-me mais do que uma vez para ir a casa dela, e Zinaida Iakolevna também costumava afirmar que tinha muito prazer em ver-me. Com Marina Petrovna é que se passou uma coisa divertida, que desejo contar. Uma coisa banalíssima mas ainda assim divertida. Marina Petrovna ficou completamente careca por minha causa, careca como um ovo. O facto deu-se desta forma: um dia fui a casa de Marina Petrovna, e ela «zás!», completamente careca. Só isto.
30/08/11
Quando alguém parte, tem de deitar
ao mar o chapéu com as conchas
apanhadas ao longo do verão,
e ir-se com o cabelo ao vento,
tem de lançar ao mar
a mesa que pôs para o seu amor,
tem de deitar ao mar
o resto do vinho que ficou no copo,
tem de dar o seu pão aos peixes
e misturar no mar uma gota de sangue,
tem de espetar bem a faca nas ondas
e afundar o sapato
coração, âncora e cruz
e ir-se com o cabelo ao vento!
Depois, regressará.
Quando?
Não perguntes.
Ingeborg Bachmann
24/08/11
17/08/11
15/08/11
13/08/11
03/08/11
29/07/11
Pizarnik
I
E sobretudo olhar com inocência. Como se nada se passasse, o que é correcto.
II
Mas a ti quero olhar-te, até que o teu rosto se afaste do meu medo como um pássaro da orla afiada da noite.
III
Como uma criança de giz cor-de-rosa num muro muito velho subitamente esborratada pela chuva.
IV
Como quando uma flor se abre e revela o coração que não tem.
V
Todos os gestos do meu corpo e da minha voz para fazer de mim a dádiva, o ramo que abandona o vento no umbral.
VI
Cobre a memória da tua cara com a máscara da que serás e assusta a criança que foste.
VII
A noite do casal dispersou-se com a névoa. É a estação das carnes frias.
VIII
E a sede, a minha memória é da sede, eu descendo, no fundo, no poço, eu bebia, lembro-me.
IX
Cair como um animal ferido no lugar que será de revelações.
X
Como quem não quer a coisa. Nenhuma coisa. Boca cosida. Pálpebras cosidas. Esqueci-me. Que entre o vento. Tudo fechado e o vento por dentro.
XI
Ao negro sol do silêncio douravam-se as palavras.
XII
Mas o silêncio é certo. Por isso escrevo. Estou só e escrevo. Não, não estou só. Há alguém aqui que treme.
XIII
Todavia se digo sol e lua e estrela refiro-me a coisas que me sucedem. Que queria eu?
Desejava um silêncio perfeito.
Por isso falo.
XIV
A noite tem a forma de um grito de lobo.
XV
Prazer de se perder na imagem pressentida. Levantei-me do meu cadáver, fui em busca de quem sou. Peregrina de mim, fui até àquela que dorme num país ao relento.
XVI
De queda em queda incessante até onde ninguém me aguardou, pois ao olhar quem me aguardava outra coisa não si senão eu própria.
XVII
Algo caía no silêncio. A minha última palavra foi eu, embora me referisse à alba luminosa.
XVIII
Flores amarelas constelam um círculo de terra azul. A água treme cheia de vento.
XIX
Deslumbramento do dia, pássaros amarelos pela manhã. Uma mão solta as trevas, uma mão arrasta a cabeleira de uma afogada que não pára de olhar-se ao espelho. Regressar à memória do corpo, hei-de regressar aos meus ossos em guerra, hei-de compreender o que diz a minha voz.
Alejandra Pizarnik, "Extracción de la Piedra de Locura" (1968)
II
Mas a ti quero olhar-te, até que o teu rosto se afaste do meu medo como um pássaro da orla afiada da noite.
III
Como uma criança de giz cor-de-rosa num muro muito velho subitamente esborratada pela chuva.
IV
Como quando uma flor se abre e revela o coração que não tem.
V
Todos os gestos do meu corpo e da minha voz para fazer de mim a dádiva, o ramo que abandona o vento no umbral.
VI
Cobre a memória da tua cara com a máscara da que serás e assusta a criança que foste.
VII
A noite do casal dispersou-se com a névoa. É a estação das carnes frias.
VIII
E a sede, a minha memória é da sede, eu descendo, no fundo, no poço, eu bebia, lembro-me.
IX
Cair como um animal ferido no lugar que será de revelações.
X
Como quem não quer a coisa. Nenhuma coisa. Boca cosida. Pálpebras cosidas. Esqueci-me. Que entre o vento. Tudo fechado e o vento por dentro.
XI
Ao negro sol do silêncio douravam-se as palavras.
XII
Mas o silêncio é certo. Por isso escrevo. Estou só e escrevo. Não, não estou só. Há alguém aqui que treme.
XIII
Todavia se digo sol e lua e estrela refiro-me a coisas que me sucedem. Que queria eu?
Desejava um silêncio perfeito.
Por isso falo.
XIV
A noite tem a forma de um grito de lobo.
XV
Prazer de se perder na imagem pressentida. Levantei-me do meu cadáver, fui em busca de quem sou. Peregrina de mim, fui até àquela que dorme num país ao relento.
XVI
De queda em queda incessante até onde ninguém me aguardou, pois ao olhar quem me aguardava outra coisa não si senão eu própria.
XVII
Algo caía no silêncio. A minha última palavra foi eu, embora me referisse à alba luminosa.
XVIII
Flores amarelas constelam um círculo de terra azul. A água treme cheia de vento.
XIX
Deslumbramento do dia, pássaros amarelos pela manhã. Uma mão solta as trevas, uma mão arrasta a cabeleira de uma afogada que não pára de olhar-se ao espelho. Regressar à memória do corpo, hei-de regressar aos meus ossos em guerra, hei-de compreender o que diz a minha voz.
Alejandra Pizarnik, "Extracción de la Piedra de Locura" (1968)
28/07/11
PARA FAZER O RETRATO DE UM PÁSSARO
Pintar primeiro uma gaiola
com uma porta aberta
pintar em seguida
qualquer coisa bonita
qualquer coisa simples
qualquer coisa bela
qualquer coisa útil
para o pássaro
encostar depois a tela a uma árvore
num jardim
num bosque
ou numa floresta
esconder-se atrás da árvore
sem dizer uma palavra
sem fazer um gesto...
Às vezes o pássaro vem logo
mas pode também demorar muitos anos
a decidir-se
Não desanimar
esperar
esperar anos, se necessário for
pois a rapidez ou demora da chegada do pássaro
nada tem a ver com a qualidade do quadro
Quando o pássaro chegar
se por acaso chegar
manter um rigoroso silêncio
aguardar que o pássaro entre na gaiola
e quando ele entrar
fechar lentamente a porta com o pincel
em seguida
apagar uma a uma todas as grades
tendo o cuidado de não tocar nas penas do pássaro
Pintar depois a árvore
escolhendo o seu mais belo ramo
para o pássaro
pintar também o verde da folhagem e a frescura do vento
os raios de sol
e o clamor dos insectos no calor do Verão
em seguida aguardar que o pássaro se decida a cantar
Se o pássaro não cantar
é mau sinal
é sinal que o quadro não presta
mas se ele cantar é bom sinal
sinal que se pode assinar
Arrancar então com todo o cuidado
uma pena do pássaro
e escrever o nome num canto do quadro.
Jacques Prévert, in "Palavras/Paroles" sextante, 2007
trad. Manuela Torres
Pintar primeiro uma gaiola
com uma porta aberta
pintar em seguida
qualquer coisa bonita
qualquer coisa simples
qualquer coisa bela
qualquer coisa útil
para o pássaro
encostar depois a tela a uma árvore
num jardim
num bosque
ou numa floresta
esconder-se atrás da árvore
sem dizer uma palavra
sem fazer um gesto...
Às vezes o pássaro vem logo
mas pode também demorar muitos anos
a decidir-se
Não desanimar
esperar
esperar anos, se necessário for
pois a rapidez ou demora da chegada do pássaro
nada tem a ver com a qualidade do quadro
Quando o pássaro chegar
se por acaso chegar
manter um rigoroso silêncio
aguardar que o pássaro entre na gaiola
e quando ele entrar
fechar lentamente a porta com o pincel
em seguida
apagar uma a uma todas as grades
tendo o cuidado de não tocar nas penas do pássaro
Pintar depois a árvore
escolhendo o seu mais belo ramo
para o pássaro
pintar também o verde da folhagem e a frescura do vento
os raios de sol
e o clamor dos insectos no calor do Verão
em seguida aguardar que o pássaro se decida a cantar
Se o pássaro não cantar
é mau sinal
é sinal que o quadro não presta
mas se ele cantar é bom sinal
sinal que se pode assinar
Arrancar então com todo o cuidado
uma pena do pássaro
e escrever o nome num canto do quadro.
Jacques Prévert, in "Palavras/Paroles" sextante, 2007
trad. Manuela Torres
27/07/11
24/07/11
"Instrutivas são as existências em que a felicidade se vai e depois regressa; o homem entra constantemente em contacto com o universo. Estas reviravoltas não são raras na vida do jogador, mas podem ser igualmente observadas nos príncipes e nos soldados. Ainda assim, tais curvas num mundo, em que frequentemente apenas um passo em falso chega para causar ruína, permite imaginar a existência de uma inteligência fortemente marcada e rítmica. Do mesmo modo, sente-se nas pontas dos dedos, e, com efeito, tem-se consciência de que mãos finas e bem contornadas são frequentemente um indício de uma natureza feliz. Existe uma ciência do momento favorável; quem quiser ter uma ideia, deve utilizar o compêndio de Casanova."
Ernst Jünger
puta de dor de cabeça...
Era uma vez um surdo completamente surdo, um paralítico completamente paralítico e um calvo completamente calvo. Viviam juntos e de tanto se aborrecerem decidiram partir. A fim de alcançarem o ponto mais distante do mundo puseram-se a caminho a pé, ou seja: o paralítico ia deitado numa maca, porque era tão completamente paralítico que nem sequer se podia sentar, e o calvo e o surdo transportavam a maca. O surdo ia à frente.
A certa altura da viagem foi preciso atravessar uma floresta. Quanto mais os três homens penetravam nela mais o mato era denso e a folhagem cerrada: Por causa disso e do anoitecer, escurecia.
Iam a meio de uma clareira quando o surdo disse: "Poisa a maca." E deixou de andar, o que obrigou o calvo a parar também. O calvo e o surdo puseram a maca no chão.
E o surdo disse assim: "Esta floresta está cheia de assassinos e malandros. Há já um bom bocado que oiço a restolhada deles." O calvo respondeu: "Estou em crer nisso, porque sinto que os cabelos se me estão a pôr em pé." Então o calvo e o surdo desataram a correr, seguindo o trilho que tinham aberto no mato.
Iam a meio de uma clareira quando o surdo disse: "Poisa a maca." E deixou de andar, o que obrigou o calvo a parar também. O calvo e o surdo puseram a maca no chão.
E o surdo disse assim: "Esta floresta está cheia de assassinos e malandros. Há já um bom bocado que oiço a restolhada deles." O calvo respondeu: "Estou em crer nisso, porque sinto que os cabelos se me estão a pôr em pé." Então o calvo e o surdo desataram a correr, seguindo o trilho que tinham aberto no mato.
O paralítico ficou sozinho na clareira. E ele pensou: "Não gosto de estar nesta floresta. Parece-me que vou mas é fugir daqui."
Nuno Bragança em "Directa"
Nuno Bragança em "Directa"
19/07/11
18/07/11
17/07/11
Subscrever:
Mensagens (Atom)