07/03/25

A Abécula // "short fuse" - black lips

A abécula
é o animal
com o mais baixo
registo de avistamentos.

a razão para tal 
prende-se
com um sistema de defesa
intimamente ligado
ao seu trajeto 
e sensibilidade.

as poucas pessoas
que conviveram com a espécie
afirmam
a pés juntos
que o seu abraço, 
não sendo letal,
estende-se
distorcendo fronteiras
espácio-temporais.

Há também quem diga 
que tem pavio curto.

Discordo.
Veemente.


abécula

     abécula

             abécula 

...

...

...

gosto tanto de ti.


Há quem diga
que não é suficiente.


E, realmente,
gostar ou amar são parcos
ao lado de uma genuína,
recorrente e leve
vontade de aprender e ficar.

foi isso
que deixei na mesa.


Rainha Abécula :



Hoje


 

Tabernei

Lavei
Servi
Levei
Nadei

E, embora imperceptível a olho nu, abracei.

Enlouquecer tem dessas coisas. 

06/03/25

"problemas & equações (ou que fazer enquanto tudo arde)" // Velvet Undergound

 "problemas & equações (ou que fazer enquanto tudo arde)"

o problema não foi percepcionar tudo prematuramente.
o problema nunca foi ter por isso querido fugir,
nem as próprias pernas questionarem: "para onde?"
o problema não era poder perder-me naqueles olhos.
o problema não foi o conforto daquelas ancas, braços,...
nem mesmo a estranha química que ocorria sempre que os olhares se cruzaram.
ou o assustador conforto do odor que me assolava as narinas ao encosta-lo no seu pescoço.
o problema foi ler fragilidades, traumas e até agressividade. ver tudo o que escondia. e em tudo, ler uma alma gémea que também arranca da terra migalhas de conforto que frequentemente lhe custam pedaços de alma.
o problema foi ver controle e rotinas e perceber.
o problema é ver fragilidade e ler potencial para força.
o problema é num implacável mecanismo de defesa ver mais beleza que fuga, receios ou afastamento.
o problema foi até nos desencontros ver prenúncios da obsolescência do tédio.
o problema é a surdez de ler "não dá", ouvir "não consigo" e sentir "meu amor".
o problema não foi por a mesa para dois.
o problema foi não te fazer sentir que não precisavas sempre de ficar.
o problema foi desde cedo localizar feridas e questionar:
"nossa?"
vi sempre muito mais soluções que problemas.

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"constatações" // Sam Cooke // Rodolfo // Raul de Carvalho

"constatações #3"

a verdade é que para além de não perdurar; sempre sinto toda a agressividade como uma farsa. mesmo que tal como o resto do mundo a usasse como meio de me proteger ou iludir. tenho zero interesse. e se aqui encenei foi na esperança de que por algum milagre estatístico isso te irrite o suficiente para agires no teu próprio interesse.

é essa.
a ridícula.
verdade. 


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"constatações"

com esta tendência
para persistência
num afecto
sem merdas

não sei
se tenho
sanidade
suficiente

para aguentar
tanta esperança




 

04/03/25

"o que é punk rock Mr Armstrong?" // Throbbing Gristle


 

"o que é punk rock Mr Armstrong?"


Não, 
esta inquietude não te é desconhecida.
Não, 
não queres mesmo repetir padrões.
Sim, 
essa zona de conforto já nada tem de conforto. 

Devem ser 
mais de 20 anos de fuga, de lugares comuns,...
com toda a coragem, trabalho e esforço por terra 
sem conseguir quebrar padrões 
viciados.

Não, 
xanax não basta. 
Nem toda a parafernália 
de ansiolíticos, antidepressivos,...
Precisas de começar a confiar 
em amigos que te confrontem, 
num psicólogo pragmático 
a que não dês apenas abébias, 
e sobretudo
em ti. 

Todas as drogas 
e a fetichização da loucura 
não resultaram sozinhas.

E tu
sabes
de tudo 
isto!

Precisas deixar que te amem! 
Precisas de deixar que te ames! 

E para o caralho 
com todo o paternalismo 
que possas ler aqui! 

Se te confronto é também por egoísmo.
Porque li quão fácil tudo poderia ser e que fodes tudo por falta de coragem em te enfrentar! 
Estás como um dia também eu fui. Como por décadas também eu fodi tudo. 
Apaixonado por me afundar, a fugir para um lugar de conforto que era meu cárcere. Um lugar de "paz podre".
Se me chateio é porque nos vi perfeitos mas desencontrados. 
Contornas ou evitas a ajuda profissional. Presa na tua infelicidade. Como quem carrega uma inevitável cruz. Quero mais que o teu martírio se foda! Recusa esta relação abusiva!
Há muitos outros passos que estão a ser dados, tudo é avassalador mas é sempre um óptimo dia para tentarmos deixar-nos de merdas! 
Quero mais é que acordes um dia e percebas que ninguém te vai salvar. Que a merda do herói tens de ser tu! Abécula de "#$%&! 
Não esperes de mim paternalismo e cuidados que não sejam recíprocos!
Ofereço-te algo bem mais valioso. Se te deixares de merdas, como também eu tento todos os dias sem garantias de conseguir! 

Dá 
uma 
merda 
de 
um 
primeiro 
passo!

Aprendida a fórmula, desmistificando o processo é tentar não perder o ritmo. 
Repetir padrões não funcionou nunca! Porque começaria agora? 
E eu sei! Vi e senti esse conflito nos teus olhos! É-me semelhante! 
E precisamente por isso sei o quão inútil seria todo este perfil de cuidador. 

De ti nunca quis ser berço!! 
De ti nunca quis ser pai!

Cúmplice.
Mútua casa.
Ou nada.

Foda-se para toda esta retórica, lugares comum e chavões que me irritam!
Sim! Foda-se para mim e Foda-se para esta conversa!! 
Mas sobretudo.. 
Foda-se para o quanto te magoas !!
Foda-se para toda a força que gastas para te protegeres de ti!
Foda-se para quanto acreditas mesmo que não mereces mais e melhor!!



03/03/25

Spike Jonze // "Desportos de Alta Competição" // Dame Area

(revisão da matéria dada, esperando desde então ter aprendido uma qualquer lição importante)

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 "Desportos de Alta Competição"


A esperança aparenta ser uma piada bem contada, uma dessas mentiras que se disfarçam de verdades. Quem joga, entrega-se à ideia de que algo vai mudar enquanto no fundo, sabe que é só um jogo de espera. A vida empurra, e o coração tende a ficar mais pesado. Quem dá demais é frequentemente o primeiro a perder-se.
Já o afecto, aquele verdadeiro, é terra de sonhadores de alta competição. Quem dá não pede em troca. Quem recebe não sente que deve.  Uma vez apresentados não há temporal que os demova. Nos embates reaprendem limites e fronteiras e definem aí o espaço de conquista. O restante é fácil. Quando a história diz o contrário, vergam-na às suas vontades e refazendo-a para que não se repita. Encontrar no outro não significa perder em nós. Contudo exige disponibilidade.
Nesse acto de funambulismo os jogadores não sabem que jogam. Os sonhadores não sabem se sonham. Procuram conforto enquanto desafiam a monotonia e exigem da vida um recorrente deslumbre. É raro registar adultos empenhados em tal tarefa. Adultos estão carregados de história, traumas, receios. Mas também frequentemente de esperança, maturidade e resiliência. 
Acreditar em finais felizes exige algum cepticismo, dois jogadores sem ilusões, não desiludidos e dispostos a iludir-se mutuamente. 

Parece difícil. E é! 
Também parece fácil. 
E também o é. 

Contas feitas,
É bonito.

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"efectivamente" // Quintron & Miss pussycat // Oblivians + Mr Quintron

 "efectivamente"


gratuito
é uma palavra
cujo sentido se tornou críptico
quiçá obsoleto

por isso
por ela
me multiplico
 
melhor 
que uma mão para dar
só duas para abraçar

gratuitamente!






01/03/25

"Tuas"

 Acreditei sinceramente que também sentias o quão raro e precioso era tudo. Acreditei sinceramente que também estavas farta de te assustar. Acredito ainda que este cansaço de ser reféns nos vai (continuar a) dar força para reclamar para nós toda a vida que merecemos. Acredito ainda que nos encontraremos aí. Ambos com uma avassaladora vontade de ficar. 

o que testemunhámos foi, de facto, bonito demais.
raro.
"isso por si só não basta." - será esta a tua voz ou a voz dos receios?

é preciso permitir aos receios ceder à imensa e recorrente vontade de interromper a tua tarde para te encostar a mim ao som de uma qualquer música. real ou imaginária. sem medo de aí nos perdermos.


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"Tuas" :





28/02/25

Dançar

 ... não resolve

mas ajuda.