"hora de inverno"
07/11/25
"hora de inverno" // My Bloody Valentine
a hora atrasa,
a rua muda de pele
e o impossível
pede abrigo
17/09/25
"as crianças não fazem barulho" // Pram
"as crianças não fazem barulho"
(Palestina 2025)
uma mão que se estende
Ouçam o que vos digo!
o ecrã brilha
com um tipo de luz
que não aquece,
com um tipo de luz
que não aquece,
mas queima devagar.
fazemos scroll
enquanto um corpo pequeno
é retirado dos escombros
é retirado dos escombros
como se fosse
um saco de arroz estragado.
vendem medo
em brilhantes embalagens
em brilhantes embalagens
com música épica de fundo.
milhares de partilhas.
milhões de olhos.
nenhuma lágrima.
nenhuma lágrima.
há dinheiro a ser contado
enquanto os ossos partem,
há contratos assinados
por mãos
que nunca
há contratos assinados
por mãos
que nunca
empunharam uma pá
para enterrar ninguém,
mas que desenham mapas
com sangue.
mas que desenham mapas
com sangue.
as pessoas dizem
"é muito complicado"
e depois voltam à pizza,
à série,
ao sofá.
sem ninguém para varrer,
os corpos acumulam-se
como folhas de outono.
"é muito complicado"
e depois voltam à pizza,
à série,
ao sofá.
sem ninguém para varrer,
os corpos acumulam-se
como folhas de outono.
há, no entanto, coisas
que não conseguiram matar:
o olhar
pequeno, sujo, faminto,
que ainda acredita.
pequeno, sujo, faminto,
que ainda acredita.
uma mão que se estende
quando tudo ensina
a fechar o punho.
mesmo entre ruínas,
a esperança é teimosa.
às vezes disfarçada de loucura,
ou de poesia mal escrita.
às vezes disfarçada de loucura,
ou de poesia mal escrita.
está viva.
e um dia vai gritar
e um dia vai gritar
mais alto que todas as bombas!
Ouçam o que vos digo!
Falo do que sei.
A esperança é teimosa!
15/09/25
"fim de tarde" // John Adams // "repetição" // and also the trees
"fim de tarde"
os candeeiros
acordam
o relógio derrete sobre a pele do rio
e os pássaros
o relógio derrete sobre a pele do rio
e os pássaros
tropeçam no silêncio
no entardecer
desfaz-se o nome das ruas
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"repetição"
tentamos
justificar a repetição.
promessas não enchem bolsos.
o café já não funciona.
as máquinas estão cheias de ferrugem
apaga-me
um pouco mais
o nome.
tiro o lápis da boca,
desenho a saída no chão
06/09/25
01/08/25
"raro" // Loscil // "verão" // Mystery Lights // "urgência" // Erik Satie // "nem" // "carta" // Carol & Snowy Red
"raro"
raramente
encontro
o que eu quero
o que eu quero
é a verdade.
o que eu quero
é escrever
sem pensar quem vai ler.
o que eu quero
é quem saiba ler
e sentir.
o que eu quero
é uma pele
que me procure
e uma alma
que não se assuste.
o que eu quero
é não ter de sorrir
quando sinto os lábios presos.
o que eu quero
o que eu quero
é sair da cama
sem ter de negociar.
o que eu quero
o que eu quero
é que a cidade
pare por uma tarde.
quero
quero
uma mesa
sem falsas promessas
que guarde em si
todas as possibilidades.
o que eu quero
é continuar.
o que eu quero
o que eu quero
é falhar
e continuar
o que eu quero
é continuar sempre
a encontrar beleza
nas coisas quebradas.
é não ter de esconder nada
dentro de palavras.
o que eu quero
o que eu quero
é um pouco de céu
em cada beijo.
o que eu quero
o que eu quero
é que a luz
não se esqueça de mim
tal como eu
também na escuridão
por ela
insisto.
o que eu quero
é quem,
com os pés
bem assentes na terra
teime em voar.
"Verão"
as noites
não expressam,
por si mesmas,
sentido algum
apenas calor.
acumulado nas paredes.
como quem procura sombra.
sonha-se
como quem sacia sede.
"urgência"
porque o dia finda
porque o coração vai
porque o tempo ensina
porque a noite cai
porque,
contas feitas,
talvez
a única coisa
que tenhamos verdadeiramente
seja uns aos outros.
"??"
às vezes, a cidade faz-se ouvir
só para lembrar que ainda há tempo
quando isso acontece,
da confusão faz encanto.
às vezes o olhar
alonga-se
sem nome, nem plano
apenas possibilidade
como quem esquece a pressa
não trocamos apenas nomes,
mas trocamos o rumo do dia.
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"nem"
nem toda a fome
é
vontade de comer
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"carta"
como ferrugem
no portão
um dia
rangíamos juntos
outro dia
não
26/06/25
"no escuro" // the knife
porque
a memória persiste
procuro
para não encontrar
no escuro
procuro
procuro
procuro
braços
que consigam
contornar
certo que,
não sendo teus,
sei
autosabotar.
dizias: "do amor, quero tudo"
onde está então a coragem
para o revindicar?
---"""---
"I don't like it easy
I don't like the straight way "
I don't like the straight way "
24/06/25
recorrente // John Cale
caminho descalço
para sentir o chão
pé ante pé
em contramão
durmo de noite
sobre céu encoberto
sonho de dia
para te trazer perto
---"""---
23/06/25
"Quanto?" // Dorival Caymmi
curto ou comprido,
nenhum poema
deve ser
mais longo
que um beijo
---"""---
11/06/25
08/06/25
"ai" // Fred Bongusto // "secretamente"
"ai"
ai que arritmia
tão veloz
ai que diferente
o sangue de irmãos
ai que saudade
de comunicar sem voz
ai que bonito
o encontro das mãos
ai que vertigem
quando a gente dança
ai que empenho
construir um castelo
ai que persistente
toda a esperança
ai que vontade
de estragar algo belo
"secretamente"
vivo
secretamente.
apaixonado.
pela minha
loucura.
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